Recentemente a GM anunciou seu plano global de eletrificação, mas sem dar muitos detalhes de como o fará nos próximos anos. A coisa toda vai até 2025 no caso do portfólio, mas institucionalmente em 2035, só produzirá carros elétricos.
Não muito diferente da Ford, a GM esconde boa parte do jogo, embora tenha mexido com o mercado ao mostrar alguns conceitos de seus futuros carros elétricos ao lado da GMC Hummer.
Falando sobre produtos, Mary Barra – CEO da GM – disse que o portfólio ficará entre US$ 30 mil e US$ 100 mil. Isso, de certa forma, assustaria os clientes da Chevrolet (Brasil) ou mesmo da Buick (China).
Então, não se trata de uma visão global, mas direcionada aos EUA. É lá que a GM quer ver o lucro nos carros elétricos e, para isso, segue a receita de que produzir carros elétricos baratos não dá lucro, focando assim em “AVA’s” (alusivo ao “Auto Valor Agregado” da Argentina).
Mesmo com Tesla e VW querendo descer abaixo da faixa dos US$ 30 mil, a GM pensa mesmo num lucro maior para manter sua operação, que não será tão global quanto das duas marcas citadas.
É aí que a coisa fica interessante. Como fica a GM no Brasil nessa história? Bom, vamos por partes. Antes de pensarmos aqui, temos que ver primeiro a China. O maior mercado do mundo logo não terá incentivos para carros elétricos.
Quando isso acontecer, a GM terá de lidar com um mercado que exige preço competitivo. Não por acaso várias marcas buscaram novos parceiros para descer para faixas de preços mais acessíveis, como no caso da JAC-VW.
A própria SAIC-GM-Wuling já anda fazendo isso com o Mini EV da marca chinesa, mas tem na Buick, seu maior experimento para buscar preços mais competitivos. Com 10 dos 30 lançamentos elétricos até 2025, a GM precisa ser competitiva na China.
É lá que terá de desenvolver baterias mais baratas e criar plataformas que compartilhem peças e componentes entre diversos produtos para reduzir os custos. Esse desenvolvimento diferirá dos EUA, devido às características da China.
Por ora, os incentivos são aplicados até 300.000 yuans ou R$ 250 mil, mas Pequim já sinalizou com o fim disso, deixando o mercado ir com as próprias rodas. Com a evolução rápida do carro elétrico nos últimos 10 anos, o que pensar nos próximos 15?
Brasil
Olhando para o cenário atual, fica impossível imaginar a GM convertendo Onix, Tracker e S10 em carros elétricos no Brasil. Os custos atuais são proibitivos, não há política de estado para a categoria e a economia está longe do ideal.
Assim, embora a GM tenha incluído sua operação brasileira nos planos, estamos falando em 15 anos. Nesse período, dá para a engenharia esticar a vida dos motores CSS Prime até 2035, especialmente usando etanol.
O que são 15 anos de vida quando o Família I (de 1982) ainda está em curso, mesmo com as mudanças radicais de emissão nestes últimos 40 anos? Para ter uma base elétrica no Brasil, mudanças radicais e indigestas certamente serão feitas.
O uso de tecnologia de baixo custo oriunda da China será fundamental. A Ultium parece uma maravilha, mas contra os custos, o lítio-fosfato de ferro ou um elemento ainda mais barato será a chave para manter o custo reduzido.
A produção de baterias seria obrigatória no Brasil para evitar mais custos oriundos de importação, exceto se houver uma política nesse sentido. Contudo, atender a demanda exigiria fabricação local.
Podemos pensar em incentivos do governo para regiões como o Nordeste, onde a energia solar e eólica sustentariam um dos pontos que a GM apoia, o uso de energia limpa. Motores elétricos? A conversão de Joinville, uma fábrica ecológica, seria outro passo.
Agora, em relação ao portfólio, não devemos pensar em um Chevrolet Joy elétrico, talvez num compacto sucessor do Onix e, de preferência, com linhas próximas às de um crossover.
Nada de Onix Plus, mas um sucessor do Tracker é algo esperado, assim como um SUV elétrico que inclua como alvos os nichos hoje de Compass e Equinox.
Um modelo para compartilhamento e condução autônoma pode vir a existir, algo que a GM já previu. Também vemos hoje marcas como VW/MAN, FNM e JAC atendendo grandes empresas de serviços.
A montadora de São Caetano do Sul não deve ficar fora disso e a BrightDrop poderia acabar com a exclusividade da Chevrolet por aqui. Não se pode esperar por um lineup grande, mas algo enxuto e bem focado.
Do México, viria um SUV elétrico maior e uma picape elétrica monobloco. Eles de fato serão feitos lá e não podemos excluir um acordo de livre comércio com os EUA, permitindo a entrada de outros elétricos sem os 35% de imposto de importação.
S10? Ainda é uma incógnita, visto que nos próximos 15 anos é preciso esperar para ver como as picapes com chassi de longarinas reagirão às mudanças.
Eletrificar um produto assim não é difícil, como no caso da picape iEV330P da JAC. O segmento rural não vai mudar em 15 anos, então, São José dos Campos pode continuar se os custos forem aprovados.
É arriscado prever o futuro das fábricas no Brasil. A demanda teria que ser alta para compensar a atual estrutura. Também não dá para saber o tamanho do mercado nacional em 2035, já que o Brasil sempre vive altos e baixos economicamente, eliminando qualquer previsão.
O compartilhamento de veículos, uso de apps e outras formas de locomoção ou uso de transporte, podem influenciar no tamanho do mercado até lá. Uma posição firme dos próximos governos influenciará isso diretamente e ainda mais na decisão da GM.
Outro ponto é que a GM não estaria sozinha nesse barco, neste cenário, embora nenhuma outra marca ainda tenha incluído o Brasil nessa mudança. É aquilo, para viver essa fase, a filial terá de ser rentável ou o destino será o mesmo da Ford…
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