Reconstruir cidades destruídas por desastres é um dos focos do G20

Diante do cenário de destruição causado pelas enchentes no Rio Grande do Sul e do estudo de eventos climáticos mundiais, a reconstrução de cidades afetadas por desastres e os desafios dessa missão marcaram o segundo dia de reuniões preparatórias para o evento presencial do Grupo de Trabalho de Redução do Risco de Desastres do G20, com abertura oficial na segunda-feira (29), no Rio de Janeiro.

No início da reunião, o secretário nacional de Proteção e Defesa Civil, Wolnei Wolff, alertou para a importância da fase de recuperação. “Vivemos em uma era de desafios sem precedentes em que as ameaças de desastres naturais, mudanças climáticas e crise econômica colocam à prova nossa capacidade de resposta e recuperação. Mais do que nunca, precisamos de abordagens inovadoras e integradas para garantir que a recuperação não seja apenas rápida, mas também inclusiva e resiliente, beneficiando a todos, especialmente as populações mais vulneráveis”, afirmou.

Da mesma forma, o chefe-adjunto de processos intergovernamentais do Escritório das Nações Unidas para Redução do Risco de Desastres (UNDRR), Abhilash Panda, ressaltou a dificuldade que os países têm de se reconstruir com agilidade. “Os países tentam se recuperar e logo ocorre outro desastre. Essa reconstrução precisa acontecer o mais rápido possível. Hoje, nesta reunião, não devemos fazer apenas estudo de casos, mas também conexões globais”, enfatizou.

 

O membro da Agência Nacional de Gestão de Desastres da Índia, Krishna Vatsa, lembrou que a dificuldade de reconstrução e o crescimento da pobreza populacional são aspectos que estão relacionados. “A alma da gestão do risco de desastres é a recuperação, mas não tem tido o apoio necessário. Fico muito feliz de estarmos falando sobre isso hoje. A recuperação demanda recursos do governo e, também, de várias outras frentes. É importante destacar que a falta de apoio na reconstrução gera pobreza. A população não consegue se recuperar e fica em um ciclo de pobreza extrema. Esse ponto é muito preocupante e precisa ser analisado“, disse Krishna Vatsa, lamentando o desastre no Rio Grande do Sul e colocando a Índia à disposição para ajudar o Brasil.

Representando a África do Sul, a diretora-adjunta do Centro Nacional de Gestão de Desastres, Pumeza Tyali, disse que estava ansiosa pela troca de experiências entre os países. “É uma troca muito importante e vamos levar todo o conhecimento para o nosso país”, afirmou.

Também na reunião, o chefe do Escritório Regional para as Américas e o Caribe, Nahuel Arenas/UNDRR, parabenizou o Brasil pelo evento e trouxe para o debate o tema da recuperação inclusiva. “Ao adotar a recuperação inclusiva, o país constrói o sentimento de confiança, empoderamento e responsabilidade nas comunidades, além de reduzir perdas econômicas. Por isso, devemos apostar na recuperação com equidade”, disse.

Clima

A sessão de debates também abordou a situação atual do clima mundial. “Os eventos extremos estão aumentando, tanto em frequência, quanto em intensidade, e isso só vai piorar enquanto não conseguirmos estabilizar a concentração de gases de efeito estufa na atmosfera. Temos esforços que vão em direção a mitigação no tema das mudanças climáticas, mas o cenário mundial indica que ainda temos vários problemas a serem enfrentados”, declarou o coordenador do Instituto Clima e Sociedade (ICS), Roberto Kishinami, destacando a necessidade imediata do aumento da capacidade de previsão de eventos climáticos.

Representando o Instituto do Clima, Yasmin Gomes, falou sobre racismo ambiental no Brasil. De acordo com ela, os desastres afetam toda a população, mas um público muito específico é ainda mais atingido. “É esse público que precisa ser visto. São pessoas historicamente em situação de vulnerabilidade, negros e moradores das periferias e comunidades do Brasil. Não podemos falar sobre crise climática sem mencionar o racismo ambiental”, acrescentou.

Um dos maiores desastres do Brasil, as enchentes que afetaram o Rio Grande do Sul, também foi tema de discussões no segundo dia do evento. O diretor do Departamento de Obras da Defesa Civil Nacional, Paulo Falcão, apresentou os números do desastre no estado gaúcho. Já o ministro-conselheiro José Solla, da Agência Brasileira de Cooperação (ABC), falou sobre o trabalho da agência neste momento. “O Rio Grande do Sul enfrentou o maior desastre da história em termos de território e em perdas e danos. Cerca de 95% do estado foi afetado pelas chuvas. As respostas interna e internacional ao desastre também foram dessa magnitude. No Brasil, foram arrecadadas 43 mil toneladas de donativos, como alimentos, água, roupas, colchões, kits de higiene pessoal e de limpeza, ração para animais, entre outros. Não foi diferente no exterior, a ABC está repetindo agora o esforço feito na pandemia da covid-19. Estamos ajudando a trazer para o Brasil 2,4 mil toneladas de doações arrecadadas por comunidades brasileiras no exterior”, concluiu.

 

O valor total das medidas de apoio do Governo Federal ao Rio Grande do Sul soma R$ 93,7 bilhões, incluindo recursos novos e antecipação e prorrogação de benefícios.

Estudo de casos

Como forma de incentivar os países, o evento promoveu um estudo de casos e ações de sucesso na recuperação inclusiva e resiliente com representantes do Japão, Coreia e Singapura. O diretor da Divisão de Cooperação Internacional do Escritório de Gestão de Desastres do Japão, Katsuhiko Kita, iniciou o debate relatando dois grandes terremotos que atingiram o Japão e os ensinamentos que esses eventos trouxeram. “Passamos a adotar a instalação de casas em trailers e queremos aumentar o número de drones. Essa ferramenta é muito útil na avaliação dos danos. Além disso, temos rotinas e ensaios de evacuação em casos de tsunamis”, afirmou.

Representando a Coreia, Lee, do Instituto Nacional de Pesquisa em Gestão de Desastres, falou sobre a importância de um sistema de avisos prévios com equidade. “As tecnologias são muito importantes, mas também é preciso focar em como as informações e os alertas vão chegar nas pessoas e o que elas vão fazer isso”, destacou.

Na ocasião, o diretor da Defesa Civil de Singapura, Wesley Ho, também relatou como a pandemia da covid-19 afetou o país e as ações de enfrentamento adotadas.

Representantes da Austrália e do México também marcaram presença. O coordenador-geral adjunto da Agência Nacional de Gestão de Emergências, Raoul Raward, debateu os acordos de financiamento para recuperação de desastres da Austrália. “Além de fechar acordos importantes, nosso país também acredita na responsabilidade compartilhada entre os governos federal e dos estados”, destacou.

A secretária de Proteção Civil da Cidade do México, Myriam Urzúa, também relatou os desastres ocorridos no país e as ações adotadas, como a criação de uma comissão de reconstrução para apoiar a população e agilizar a recuperação. Já o executivo do Banco de Desenvolvimento da América Latina e do Caribe (CAF), Oscar Guevara, alertou para a importância da antecipação dos danos para a liberação de recursos.

Representante do Departamento Italiano de Proteção Civil, Chiara Cardaci, aproveitou a oportunidade para tratar da preservação cultural. “A Itália é um país muito vulnerável aos desastres, temos muitos pontos com riscos sísmicos e hidrogeológicos. Proteger o patrimônio cultural é proteger a vida e preservar setores como, por exemplo, do turismo”, concluiu.

Presidência do Brasil

Desde 1º de dezembro de 2023, o Brasil assumiu, pela primeira vez, a presidência do G20 e colocou na pauta prioridades como a reforma da governança global, as três dimensões do desenvolvimento sustentável (econômica, social e ambiental) e o combate à fome, pobreza e desigualdade.

A logomarca da presidência brasileira, com as cores das bandeiras dos países-membros, destaca o dinamismo e multilateralismo com que o Brasil aborda as questões mundiais.
Com o slogan “Construindo um mundo justo e um planeta sustentável”, a atual presidência traz o compromisso e o desejo do Brasil em promover o desenvolvimento econômico e social global.

G20

O Grupo dos Vinte, o G20, nasceu após uma sequência de crises econômicas mundiais. Em 1999, países industrializados criaram um fórum para debater questões financeiras. Em 2008, no auge de mais uma crise, o grupo teve a primeira reunião de cúpula com chefes de Estado e, desde então, não parou de crescer no âmbito das discussões sobre estabilidade econômica global.

Com presidências rotativas anuais, o G20 desempenha papel importante nas grandes questões econômicas internacionais.

Atualmente, além de 19 países dos cinco continentes (África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, Coreia do Sul, Estados Unidos, França, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Reino Unido, Rússia e Turquia), integram o fórum a União Europeia e a União Africana. O grupo agrega dois terços da população mundial, cerca de 85% do PIB global e 75% do comércio internacional.

Atualmente, a agenda do G20 inclui outros temas de interesse da população mundial, como comércio, desenvolvimento sustentável, saúde, agricultura, energia, meio ambiente, mudanças climáticas e combate à corrupção.

Fonte: MIDR

Pixel Brasil 61

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