Mesmo com restrições, foliões improvisam e saem às ruas em São Paulo

O carnaval que vem de dentro. Apesar de adiado para abril ou restrito aos eventos particulares (em razão da pandemia da covid-19), o espírito da folia resistiu no coração e na disposição de quem decidiu sair para a rua fantasiado em São Paulo.

Na Vila Madalena, os blocos oficiais não puderam sair. Apesar disso, muitos bares fizeram do carnaval o tema deste feriado. Não era difícil encontrar lugares decorados com confete, serpentina ou máscaras de Pierrot. Sambas e marchinhas foram a trilha sonora do domingo na região.

A professora Melissa do Sibio, de 45 anos, andava pela movimentada Rua Aspicuelta de pilota de avião. “Em fevereiro do ano passado eu estava internada com covid, com 50% do pulmão comprometido”, disse. “Quando estava no hospital, só pensava o quanto tinha sido feliz no último carnaval. Hoje, saí fantasiada para representar meu renascimento”, completou.

O casal Ketlly e Rodrigo Dourado também foi para a rua. “O espírito do carnaval não depende de aglomeração. A gente ama carnaval e decidiu sair para mostrar o carnaval que está dentro da gente”, afirmou Ketlly.

A vendedora Cristina Ciaco, de 48 anos, seguiu a mesma linha. Ela saiu de casa com adereços para “manter o espírito”. “Mesmo com respeito e cuidados, não vamos deixar morrer esse espírito”, disse.

Para outras pessoas foi simplesmente inadmissível chegar ao fim do mês de fevereiro sem vestir uma fantasia. “Acordei pensando na injustiça que é passar outro ano sem brincar o carnaval. Decidi, pelo menos, usar um adereço para não esquecer que o carnaval é agora”, falou o empresário Rodrigo Benedecto, de 41 anos – e de marinheiro.

Apesar de usar apenas umas orelhinhas de coelho, o também empresário Silvio Vieiro, de 43 anos, defendeu quem sai de casa fantasiado. “É o carnaval da resiliência. A pandemia fez de todos nós mais resilientes. Por isso, estamos aqui comemorando a data”, afirmou. Indagado porque não deixou a folia para abril, o empresário explicou que mora fora do Brasil. “Essa era a minha única possibilidade de brincar o carnaval. Não quero perder outro ano”, completou.

Um sentimento parecido mobilizou um grupo de maranhenses que veio para São Paulo justamente para brincar o carnaval. Apesar de decepcionados com o fraco movimento de foliões nas ruas, eles compraram ingressos para um evento fechado, no Jockey Club. “Compramos para todos os dias. A gente não podia perder a viagem”, falou Guilherme Diniz, de 33 anos.

Na Praça Olavo Bilac, na Barra Funda, teve carnaval como se não houvesse amanhã ou restrições. Às 16h, a praça estava cheia, com direito a banda de instrumentos de sopro e muita gente fantasiada. Ao menos 250 pessoas ocupavam a praça no fim da tarde.

Tom político

E, apesar da folia, os participantes insistiram no tom político da festa. “Esse carnaval da Olavo Bilac é o carnaval de protesto contra o carnaval privatizado dos lugares fechados. O carnaval tem de ser na rua e para todos”, disse um folião que pediu para não ser identificado.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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