Um artigo da Reuters está chamando a atenção não só no Brasil, mas em outros países. Trata-se da saída da Ford do país, mas especificamente sobre como a montadora americana perdeu quase US$ 12 bilhões aqui desde 2011.
Trata-se de um montante elevado para qualquer fabricante de carros, mesmo para os maiores que existem. Contudo, o volume é apenas para uma única operação e isso mostra porque a Ford jogou a toalha, fechou a mala e saiu da produção nacional.
Contudo, dos US$ 11,6 bilhões creditados no saldo negativo da Ford no Brasil, US$ 4,1 bilhões são relativos ao fechamento dessa “conta”, que é a indenização trabalhista, desligamento das fábricas e rompimento dos contratos de fornecimento, entre outras coisas.
Assim, o restante dos R$ 11,6 bilhões ou cerca de R$ 61 bilhões foram de prejuízos acumulados nos últimos anos, fruto de injeção de dinheiro, erros estratégicos e do chamado “Custo Brasil”.
Mesmo tendo obtido US$ 2,6 bilhões em incentivos fiscais desde 2011, o que é cerca de um terço de todo o setor no período, segundo a Reuters, a Ford ainda recebeu mais US$ 1,3 bilhão diretamente de Dearborn, “entre março de 2018 e janeiro de 2021”, conforme registros de arquivos corporativos em São Paulo.
Com US$ 3,9 bilhões que entraram, a Ford ainda perdeu US$ 7,5 bilhões em uma década. Um dos motivos para isso, conforme publicado pela Reuters, foi a lentidão em responder ao mercado.
Ou seja, a marca do oval azul demorou demais para fazer a transição de carros baratos e pouca margem para segmentos que estavam vendendo bem, como os SUVs. A Ford só tinha o EcoSport nesse mercado, visto que o Edge sempre foi um produto de imagem.
Mesmo com concorrentes que estavam atrasados, como a VW, que adicionou pelo menos dois modelos ao lineup nos últimos anos, a Ford não fez nada.
O Edge ST era ainda mais nicho que as versões anteriores. Num país com alto custo de produção, carros baratos como Ka e Ka Sedan geram prejuízo e a Ford não escapou disso.
As montadoras não falam, mas a Reuters citou três delas, que evidentemente se calaram diante da publicação. Desde 2011, a Volkswagen perdeu US$ 3,7 bilhões, a GM outros US$ 2,2 bilhões e a Toyota, quem diria, pediu o perdão de uma dívida de US$ 1 bilhão entre empresas.
Todas tinham e ainda têm carros “baratos” e em bom volume. Entretanto, não foi somente a inação da Ford diante de um mercado em mudança – ela já preparava três modelos de SUVs, porém, não teve tempo de executá-los – mas o próprio Brasil.
O “Custo Brasil” foi um dos pontos que arruinaram as ações da Ford no Brasil, dado que a carga tributária, custo de produção e encargos trabalhistas são considerados mais altos aqui que em outros países, o saldo negativo só se elevou.
Para piorar, as exportações não eram competitivas porque os carros nacionais custam mais lá fora. Como um país com parque de 5 milhões e consumo de menos da metade, a exportação é imprescindível para o setor.
Então, entrou a ociosidade e os custos da Ford continuaram subindo. De quarto, o Brasil caiu pouco tempo depois para sétimo no ranking de vendas global.
Com tudo isso na conta, então, veio a pandemia de coronavírus, com mercado paralisado, queda expressiva nas vendas e tudo o que já sabemos. Aí, a corda arrebentou para os lados de Taboão, antiga sede da Ford no país.
Agora, a empresa virou marca de carros importados e operação enxuta, mas vai contornar os custos de vender por aqui? Ela ainda tem operação completa na Argentina e vai começar um CKD no Uruguai. Um recomeço? Veremos. Enquanto isso, fica a pergunta: quem mais está na mesma situação?
[Fonte: Reuters]
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