Pelo menos sete capitais brasileiras estão com a aplicação da segunda dose da Coronavac atrasada após mudança no cronograma de entrega do imunizante. Em outras capitais, foi preciso restabelecer a ordem de prioridades da imunização, escalonando os grupos por idade ou ordem alfabética. Pelo menos 164 mil pessoas foram afetadas pela demora nos repasses.
Em Salvador, a secretaria municipal da Saúde está aplicando a segunda dose da Coronavac apenas em quem estava marcado inicialmente para o dia 1º de maio e cujos nomes começam com as letras a e b. A capital baiana informa que segue com baixo estoque da vacina produzida pelo Instituto Butantan/Sinovac, e culpa o desabastecimento do governo federal pelo atraso.
Um lote de cerca de 4 milhões de doses da Coronavac que deveria ter sido entregue até o final de abril sofreu atraso e será fornecido a partir desta semana. Como em março o Ministério da Saúde havia orientado Estados e municípios a não reservarem a segunda dose para quem já tomou a primeira, cidades viram seus estoques esgotarem diante do imprevisto no cronograma. O Butantan promete enviar na próxima quinta-feira, 5, um lote de 1 milhão de doses das 4 milhões atrasadas.
No Rio de Janeiro, a aplicação foi suspensa por 10 dias, após a capital fluminense ter esgotado toda a sua reserva técnica, utilizada para cobrir a segunda dose após o desabastecimento. Em nota, a secretaria municipal informa que o cronograma enviado pelo Ministério da Saúde não será suficiente para repor o estoque dentro do prazo previsto e, por ora, vai terminar a imunização apenas em idosos acamados e acima dos 70 anos. A partir da próxima terça-feira, 4, será a vez de quem tem mais de 67 anos.
Desde 26 de abril, Maceió enfrenta atrasos e entregas insuficientes de doses da vacina para atender à demanda pela segunda dose. A aplicação prevista para aquela data tinha sido remanejada para o último fim de semana, mas a capital do Alagoas afirma ter recebido um lote com 10 mil doses a menos do que o necessário, o qual se esgotou desde o meio-dia desta segunda-feira, 3.
Outras cerca de seis mil pessoas também aguardam a nova remessa de Coronavac do governo federal para terminarem a imunização em Porto Velho, capital de Rondônia. Por lá, a aplicação da segunda dose também está suspensa desde 26 de abril, e a secretaria municipal de Saúde afirma esperar o prazo de 10 dias dado pelo ministério para a regularização das entregas.
As entregas insuficientes também foram registradas em Porto Alegre e Recife. Na capital do Rio Grande do Sul, o município estima que mais de 59 mil pessoas tiveram a imunização interrompida desde 29 de abril. As duas últimas entregas feitas no município foram de cerca de 7 mil doses, abaixo das 30 mil necessárias.
Já na capital de Pernambuco, a Prefeitura tem remarcado através de mensagens de texto, email e whatsapp a aplicação da segunda dose para mais de 79 mil pessoas agendadas para esta semana. Por lá, o calendário foi adiado em uma semana e deve ser retomado a partir da próxima segunda-feira, 10. O município afirma que, desde 21 de março, seguiu as diretrizes do Ministério da Saúde que recomendavam a aplicação da Coronavac apenas para a primeira dose.
“Na ocasião, a pasta federal atestou que os novos envios do imunizante seriam constantes, o que não ocorreu e provocou a escassez da Coronavac para segunda dose em dezenas de cidades, incluindo capitais, em todo o País”, diz a nota enviada à reportagem.
As administrações municipais de Belém, São Luís, Fortaleza, Florianópolis, Manaus, Curitiba, Boa Vista, Vitória e São Paulo afirmaram que estão aplicando normalmente a segunda dose da Coronavac nesta segunda-feira, 3.
A prefeitura de Goiânia negou que tenha havido suspensão da oferta da segunda dose por escassez de imunizantes, mas esclareceu que a aplicação será retomada na próxima quinta-feira, 6, data já prevista para a administração dos reforços. As demais capitais não responderam o questionamento da reportagem.
Nove Estados relatam interrupção da campanha em alguns municípios
Outras cidades além das capitais também sofrem com a escassez da Coronavac e tiveram que interromper a aplicação da segunda dose. Segundo levantamento feito pelo Estadão com as 27 secretarias estaduais da Saúde, ao menos nove Estados admitem ter municípios nessa situação.
O governo do Ceará relatou ter sido informado por 26 prefeituras na semana passada sobre o esgotamento das doses e a interrupção da aplicação do reforço do imunizante. A Secretaria da Saúde cearense disse que essas cidades estão tendo prioridade de recebimento das novas remessas. Dois dos municípios que estavam sem doses, entre eles Fortaleza, receberam novos lotes nesta segunda-feira, 3. As outras 24 deverão começar a ter seus estoques reabastecidos a partir desta terça-feira, 4.
No Paraná, são 14 municípios com a aplicação da segunda dose suspensa. O Estado não deu uma previsão de quando a vacinação será retomada nessas cidades porque disse depender da entrega pelo Ministério da Saúde. “O Paraná tem solicitado constantemente o envio de mais doses ao Ministério da Saúde. O Estado aguarda a confirmação da pasta sobre novas datas. Tão logo essas doses cheguem, elas serão encaminhadas para os municípios darem continuidade à vacinação”, destacou a secretaria, em nota.
No Mato Grosso, dois municípios reportaram o problema e a expectativa do governo estadual é de regularização também a partir de terça. No Amazonas, somente a capital, Manaus, teve que suspender a aplicação do reforço.
Rio Grande do Norte e Rio Grande do Sul não informaram o total de cidades atingidas pelo problema, mas estimam que mais de 500 mil pessoas já estejam com a aplicação da segunda dose atrasadas ou próxima da data limite: são 65,6 mil potiguares com doses em atraso e 464,7 mil gaúchos que receberam a primeira aplicação proveniente de lotes enviados entre 20 de março e 2 de abril e que, portanto, já teriam ultrapassado os 28 dias de intervalo determinado pelo fabricante.
Mato Grosso do Sul disse que 94 mil pessoas estão com a segunda dose em atraso. Bahia afirmou que recebeu a informação de que cidades do Estado interromperam a aplicação, mas não soube precisar o número de municípios ou pessoas prejudicadas.
Minas Gerais disse que foi comunicada por municípios sobre a falta de imunizantes, mas ainda está levantando a dimensão do problema. “Diante deste cenário, a SES-MG enviou aos municípios o formulário para preenchimento referente ao quantitativo de doses necessárias para completar o esquema vacinal. Após levantamento dos dados, a Secretaria irá enviar ofício ao Programa Nacional de Imunizações (PNI), solicitando que o Ministério da Saúde recomponha os imunizantes relativos à segunda dose para os municípios afetados”, declarou a Secretaria da Saúde mineira.
Distrito Federal, Pará, Pernambuco, Roraima, Santa Catarina, São Paulo e Tocantins disseram não ter registro de interrupção da aplicação da segunda dose em seus territórios. Os demais Estados não responderam.
Nesta segunda, 3, o ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), defendeu que gestores públicos podem responder a ações de improbidade caso atrasem a aplicação da segunda dose das vacinas contra a covid. A manifestação consta em decisão proferida para suspender decisão do Tribunal de Justiça do Rio que validou decreto estadual que alterava a ordem de prioridades do imunizante.
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