INÉDITO: Sucuri queimada é salva com pele de tilápia

A sucuri Xamã tinha queimaduras e mordidas pelo corpo. Os veterinários desconhecem a origem das dentadas, mas sabem de onde veio o fogo. Enquanto a cobra era carregada, pelo céu flutuava a fuligem que queimava onde Xamã conhecia como “casa”, mas nós humanos chamamos de Pantanal.

Em culturas indígenas, xamã é um líder conectado aos espíritos ancestrais da floresta, e que nela encontra o conhecimento e a cura oferecida pela própria natureza. É comum que xamãs sejam pontes entre humanos e outras espécies, que assumam suas peles e suas perspectivas durante alguns rituais. Graças aos cientistas, a cobra pode ajudar a cumprir parte da função que o nome lhe atribui.

Xamã foi resgatada em um dos incêndios no Pantanal e agora passa por tratamento com pele de tilápia. A técnica é utilizada em humanos desde 2017, mas será analisada de maneira inédita em animais silvestres resgatados com queimaduras, como antas, jaburus e onças. Segundo cientistas, a pele de tilápia funciona como um curativo da natureza que transmite colágeno, protege, ajuda a hidratar e a acelerar a cicatrização da pele queimada.

“Será um caso inédito do tratamento com pele de tilápia em répteis”, diz a veterinária Carol Machado, especialista em animais silvestres. Xamã foi encontrado em outubro por agentes do Ibama na beira da Transpantaneira, rodovia estadual considerada como “a porta de entrada do Pantanal”. Segundo a Polícia Federal, a origem do fogo no Pantanal é criminosa.

Segundo Carol, a sucuri estava “desfalecida”, com ferimentos pelo corpo e com a boca machucada, o que a impedia de comer. Quando foi resgatada, os veterinários da ONG AMPARA Silvestre (saiba como ajudar abaixo) ainda procuravam alternativas para acelerar a recuperação das queimaduras.

A equipe havia recém-testado células-tronco para tratar as queimaduras profundas da onça Amanaci, que teve as patas queimadas até os tendões. O tratamento deu bons resultados, mas ainda era necessário um método para lesões mais superficiais, mas também dolorosas. Foi quando o grupo encontrou estudiosos que usam da pele da Tilápia do Nilo para queimaduras, uma saída natural e gratuita.

Antas, roedores, aves e Xamã foram “envelopados” na pele do peixe. As regiões queimadas começaram a cicatrizar por volta de uma semana, avaliaram os veterinários. Os resultados servirão como relatos para estudos sobre o uso da pele de tilápia entre animais lesionados. Por enquanto, a técnica é experimental.

Xamã tem 2,50m, ainda é jovem e poderá ter três vezes o tamanho atual. As maiores sucuris chegam a oito metros. Além da aplicação da pele de peixe, a cobra resgatada teve 23 ferimentos costurados e recebeu antibióticos contra infecções. O nome de Xamã foi uma ideia da veterinária Carol.

“Ele chegou em um dia conturbado de muitas emergências e foi o último a chegar. Mesmo muito machucado, estava muito bravo, forte. Eu queria que ele tivesse um nome forte, e um dos significados de Xamã é cura”, explica.

Xamã agora está menos abatido. Ele serpenteia pelo recinto onde vive, à espera da volta para a casa. Ainda não há previsão de “alta”, pois é preciso adaptá-la novamente ao Pantanal.

Como ajudar

AMPARA — Associação de Mulheres Protetoras dos Animais Rejeitados e Abandonados

Criada em 2010, a AMPARA Animal cuida de animais domésticos e desde 2016 tem uma equipe dedicada a animais silvestres. É possível fazer a doação de qualquer valor no site oficial.

WWF-Brasil

Criada em 1996, a WWF-Brasil recebe e repassa doações para instituições que atuam na preservação do meio ambiente no país. Há um canal específico para doações, a partir de R$ 35.

Ecoa – Ecologia e Ação

A instituição trabalha diretamente no território do bioma do Pantanal. A ONG existe em 1989 e dá capacitação, sensibilização e preservação do meio ambiente para a população local. Qualquer valor pode ser doado no site da instituição.

SOS Pantanal

Elaborada em 2009, o Instituto Socioambiental da Bacia do Alto Paraguai (SOS Pantanal) promove campanhas, oficinas e sensibilização entre grandes empresas e população para a preservação do bioma. Para doar, é preciso telefonar para o número (67) 3042- 9095 ou enviar e-mail para financeiro@sospantanal.org.br.

Instituto Arara Azul

Voltado exclusivamente à preservação da arara azul no Pantanal. Fundada em 2003, tem sede em Campo Grande e é a principal instituição para conservação da espécie no país. No site, é possível comprar camisetas, acessórios ou doar qualquer valor.

Fonte: https://www.uol.com.br/ecoa/ultimas-noticias/2021/01/16/sucuri-queimada-e-salva-por-pele-de-peixe-no-pantanal-em-caso-inedito.htm

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