SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Dois policiais de Louisville, no estado do Kentucky, ligados à morte de Breonna Taylor, mulher negra baleada em seu apartamento durante ação policial em março, receberam notificação nesta terça-feira (29) de que serão demitidos, segundo o jornal americano The New York Times.
O desligamento faz parte de uma série de medidas disciplinares tomadas para responsabilizar mais agentes no caso que alimentou a indignação em um país que há meses vive um histórico movimento antirracista e contra a violência policial.
A informação da demissão foi divulgada pelos advogados dos dois agentes demitidos, os detetives Myles Cosgrove, um dos policiais que atiraram em Breonna, e Joshua Jaynes, que preparou o mandado de busca da ação em 13 de março.
A chefe do Comitê de Segurança Pública da Câmara Municipal, Jessica Green, afirmou que medidas disciplinares adicionais devem ser tomadas. Já a chefe interina da polícia, Yvette Gentry, se prepara para deixar o departamento, abrindo caminho para um novo comandante, que ainda não foi nomeado.
Cosgrove, um policial branco há 15 anos na corporação, atirou em Breonna ao menos três vezes, o que acabou a matando, segundo uma análise balística do FBI, a polícia federal americana. Ele foi a segunda pessoa a entrar no apartamento da vítima e disparou 16 tiros no corredor, segundo o estudo.
De acordo com o jornal americano, em sua carta a Jaynes, Yvette disse que sua demissão era pela violação das políticas do departamento sobre mandados de busca e veracidade. O advogado do agente, Thomas Clay, disse que seu cliente nunca mentiu no pedido do documento.
“Eles basicamente tentaram atirá-lo aos leões, mas não vão conseguir porque ele não fez nada errado”, afirmou Clay, segundo o New York Times. Jaynes poderá responder às acusações em uma audiência interna na quinta-feira (31), de acordo com a carta.
Até o momento, o único policial responsabilizado foi Brett Hankison, detetive que disparou 10 tiros do lado de fora do apartamento em direção às janelas da casa de Breonna.
Ele foi demitido em junho por desrespeitar a política de força letal do departamento e indiciado por um grande júri em três acusações por “exposição de cidadão a risco injustificado”, uma vez que alguns de seus disparos atingiram apartamentos vizinhos.
A responsabilização legal apenas de Hankison, em setembro, levou a uma nova leva de protestos em Louisville. À época, a prefeitura tentou conter os atos, que deixou policiais baleados, com um toque de recolher. Centenas foram presos, e a cidade recebeu reforços da polícia estadual e da Guarda Nacional.
ENTENDA O CASO
Breonna foi baleada cinco vezes no corredor de seu apartamento por policiais que executavam um mandado de busca em uma investigação relacionada a tráfico de drogas.
Os policiais que arrombaram a porta do apartamento da jovem negra logo após a meia-noite de 13 de março tinham um mandado de busca e apreensão. Inicialmente, eles tinham aval da Justiça para entrar no local sem aviso prévio. Antes de a ação começar, porém, o tipo de mandado foi alterado, e assim os policiais eram obrigados a bater na porta e se identificarem antes de entrar.
A operação fazia parte de um caso que envolve o ex-namorado da jovem, Jamarcus Glover, acusado de comandar uma rede de tráfico de drogas. Em outros endereços revistados, policiais encontraram uma mesa coberta de drogas embaladas para venda, incluindo um saco contendo cocaína e fentanil, mas nada ilícito foi encontrado no apartamento de Breonna.
A investigação que levou os policiais à casa dela incluiu um rastreador GPS, que apontou repetidas idas de Glover ao apartamento; fotos dele saindo do apartamento com um pacote nas mãos; filmagem mostrando Breonna em um carro com Glover em uma das “bocas” que ele operava; e o uso do endereço dela em registros bancários e em outros documentos.
Na noite da operação, Breonna estava no apartamento com seu namorado, Kenneth Walker. Ele disse que os dois não sabiam quem estava à porta. Apenas um vizinho, entre quase uma dúzia, relatou ter ouvido os agentes gritarem “polícia” antes de invadir.
Como os policiais não atiraram primeiro –foi o namorado de Breonna que abriu fogo; ele disse que confundiu a polícia com intrusos–, juristas achavam improvável que os oficiais fossem indiciados.
Dois agentes, o sargento Jon Mattingly e o detetive Myles Cosgrove, reagiram aos tiros na direção do namorado de Breonna, de acordo com documentos internos. Ela foi morta com cinco tiros.
Nenhum dos três agentes foi acusado judicialmente pela morte de Breonna, mas Brett Hankinson, que foi demitido da polícia após o episódio, foi indiciado por “exposição de cidadão a risco injustificado”.
De acordo com o inquérito instaurado, Hankinson atirou contra a porta de vidro do quintal e contra a janela do prédio de Breonna, ambos cobertos com persianas, violando uma regra do departamento de polícia que exige que os agentes tenham uma linha de visão.
Na carta de demissão, o departamento de polícia de Louisville declarou que Hankinson demonstrou “extrema indiferença pelo valor da vida humana”.
O nome e a imagem de Breonna se tornaram parte de um movimento nacional contra a injustiça racial, com celebridades escrevendo cartas abertas e erguendo outdoors com mensagens para exigir que os policiais sejam acusados criminalmente pela morte.
A mãe de Breonna processou a prefeitura de Louisville por homicídio culposo e recebeu US$ 12 milhões (R$ 63 milhões) em um acordo anunciado em 15 de setembro. Ela e seus advogados, no entanto, exigem que os três policias envolvidos sejam julgados por homicídio.
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